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Comunhão e Progresso

A instrução pastoral Communio et Progressio foi publicada em 1971 pelo Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais da Santa Sé.

O documento Communio et Progressio, é uma Instrução Pastoral, publicada pelo Pontifício Conselho para as Comunicações (1971) e  representou o mais avançado documento da Igreja referente às comunicações para a época em que foi publicado. É uma resposta pastoral ao decreto Inter Mirifica (1963), do Vaticano II.

Caracteriza-se, antes de tudo, pela abertura que marcou os documentos do Concílio e a evolução das mentalidades nos anos seguintes. O texto retorna às grandes convicções do Inter Mirifica em relação à mídia, completando-se e apresentando-se de uma forma mais coerente e compreensível. Já se evidencia, no documento, uma atitude de escuta da sociedade contemporânea e a presença das tecnologias da comunicação. Assim se expressa no n. 122: “… a Igreja deve saber como reagem os nossos contemporâneos, católicos ou não, aos acontecimentos e correntes de pensamento atual”.

Como estrutura,  a Communio et progressio baseia-se, na sua primeira parte, na doutrina. Com o título “Os Meios de Comunicação social na perspectiva cristã: elementos doutrinais”  o texto considera temas teológicos para justificar o dever e o direito da Igreja utilizar-se dos meios de comunicação. O princípio primordial apontado é que “estes meios técnicos têm como finalidade ideal… estreitar os laços de união entre homens e mulheres” (CP 6), pois “a comunhão e o progresso da convivência humana são considerados os fins primordiais da comunicação social e dos meios que emprega” (CP 1). A  Igreja vê, assim, no desenvolvimento da mídia, a resposta para o “preceito de Deus: ‘Possuí e dominai a terra’” (CP 7). Portanto, na visão da Igreja, seria um ato de “cooperação” na “criação e conservação” do mundo  (CP 7).

A abordagem da segunda parte “Os meios de comunicação social como fatores do progresso humano” versa sobre a ação dos meios de comunicação na sociedade humana. Nesta abordagem, o documento indica as melhores condições para o bom uso dos meios de comunicação, de acordo com a finalidade expressa na primeira parte doutrinal.  O papel dos meios de comunicação, indicado pelo documento, é o de construir união, daí a importância, também, da opinião pública, onde, como que numa espécie de praça pública “homens e mulheres trocam impressões espontaneamente” (CP 24).

Uma terceira parte do documento trata do “Empenho dos católicos no campo dos meios de comunicação” e enfatiza a necessidade de diálogo entre a Igreja e o mundo, propõe uma estrutura pastoral adequada e a formação de organizações que desenvolvam trabalhos específicos com os meios de comunicação, na medida em que a Igreja reafirma que “os modernos recursos técnicos se revelam, hoje em dia, indispensáveis à propagação do Evangelho” (CP 16).

Reconhecendo que o mundo da comunicação evolui rapidamente, a Instrução preferiu fundamentar suas considerações em “alguns princípios imutáveis”, baseados na mensagem do amor (…) e na dignidade do homem e da mulher (CP 183).  O documento reconhece, também, sua indicação de  somente algumas linhas gerais de ação, uma vez que “a atual situação da comunicação social não permite descer a muitos pormenores. A concepção cristã da vida apoia-se em princípios imutáveis baseados na mensagem do amor que é a Boa Nova do Evangelho” (CP183).  Sem dúvida, a Communio et Progressio vai além do decreto Inter Mirifica, colocando-se em outra posição: a mídia não é mais vista como um perigo, mas como força benéfica. E também foge de um discurso moralista.

É preciso considerar, outrossim, dentro de uma análise mais acurada, que o documento louva a ideia do progresso tecnológico, mas perpassado de idealismo. O documento trata a mídia como se ela fosse destinada a desenvolver-se numa sociedade na qual não há tensão interna. Os sete anos empregados na preparação do documento não foram suficientes, na verdade, para que a Igreja, em suas várias instâncias, descobrisse a íntima relação entre comunicação social e política. O documento trata da comunicação sem referir-se à sua dimensão política e econômica.  O questionamento, então, pousa sobre o fato de  como é possível atribuir uma função social aos instrumentos de comunicação, para promoverem a “comunhão” e o “progresso”, sem discutir o fato de que esta  mídia implicada é conduzida, e por vezes, totalmente controlada e denominada  pelo sistema econômico e político. O documento, entretanto, é de grande abertura para que os aspectos omissos, mas realistas da sociedade,  fossem discutidos futuramente.

 

Cantinho das sugestões, para refletir e aprofundar a temática:

COMISSÃO PONTIFÍCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL. Instrução Pastoral Communio et progressio (1971). 3ª Ed. São Paulo: Paulinas, 2000.

PUNTEL, Joana T.   Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática. São Paulo: Paulinas/SEPAC, 2010.

_________ Igreja e Sociedade: método de trabalho na comunicação. São Paulo: Paulinas/SEPAC, 2015.

 

Irmã Joana Terezinha Puntel é religiosa paulina, jornalista, doutora em Ciências da Comunicação. Integra o Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB (GRECOM), pesquisadora na área de comunicação, Cultura e Igreja. 

 

* Ao se servir do conteúdo deste artigo, gentileza citar a fonte.