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Educação para liberdade e autenticidade: monsenhor Lucio Ruiz aponta caminhos para vivência no mundo digital.

A última conferência do 4° Seminário de Comunicação Social da Arquidiocese do Rio se concentrou no tema da pessoa e educação na era digital. A colocação foi proferida pelo secretário da Secretaria para a Comunicação Social da Santa Sé, monsenhor Lucio Adrián Ruiz, durante o evento que ocorreu entre os dias 7...

A última conferência do 4° Seminário de Comunicação Social da Arquidiocese do Rio se concentrou no tema da pessoa e educação na era digital. A colocação foi proferida pelo secretário da Secretaria para a Comunicação Social da Santa Sé, monsenhor Lucio Adrián Ruiz, durante o evento que ocorreu entre os dias 7 e 10 de novembro, no Centro de Estudos e Formação do Sumaré.

Diante de um contexto atual de um ecossistema comunicativo interconectado, complexidade crescente, aparentes igualdades e de “endeusamento” da emoção em detrimento da racionalidade, o secretário discorreu sobre os desafios trazidos pelo contexto tecnológico e comunicativo e a forma de educar as pessoas a fim de que cresçam emliberdade e autenticidade.

“Toda pessoa é chamada por Deus para ser a melhor versão de si mesma, por amor e serviço aos outros, seguindo o modelo de Jesus Cristo. E para cumprir este sonho, são necessárias pessoas livres. Deus não quis automatizações muito disciplinadas que executem mecanicamente tarefas atribuídas. Ele quer filhos e filhas que aceitam livremente o chamado amoroso para viver no amor e no serviço”, enfatizou ao destacar a finalidade da formação integral do homem, que, nos dias atuais, tem sua fonte também em dispositivos eletrônicos e não apenas na família, escola e Igreja.

A partir do que apontou como os três grandes desafios da atualidade – a realidade virtual, inteligência artificial e robótica – o representante do dicastério romano salientou, como na era digital, a questão da pessoa humana, da liberdade e da autenticidade não pode deixar de enfrentar argumentos que desafiem sistematicamente tudo o que já foi afirmado no campo antropológico e filosófico.

“De fato, o grande desenvolvimento da ciência e da tecnologia e o surgimento de novas correntes de pensamento baseadas nesse desenvolvimento precisam repensar, re-compreender e re-posicionar o homem em face do novo”, afirmou complementando com a seguinte provocação: “Estamos usando a técnica para o homem ou homem para a técnica? Quem estava no centro do interesse?”.

Os desafios da era digital

Monsenhor Lucio, em sua colocação, buscou traçar as definições de cada um deles e o porquê de serem considerados pontos de atenção:

– realidade virtual: “insere o usuário em um mundo de emoções, sensações e experiências criadas digitalmente, com aparência ou não de realidade real, mas que, em qualquer caso, envolve o usuário ao nível da inteligência e da vontade, porque ele deve pensar e decidir sobre as ações a serem tomadas. A pessoa se sente presente lá e vive intensamente o encontro nesse universo espacial diverso e paralelo”. Torna-se, portanto, um desafio porque é necessário educar as pessoas para que gerenciem sua própria identidade e, assim, não correrem o risco de, como num “avatar”, deterem múltiplas personalidades, diferentes modelos comportamentais, responsabilidades diluídas, ações e relacionamentos diversos e desconectados, o que estaria no extremo oposto da liberdade e autenticidade.

– inteligência artificial (IA): “é a simulação de processos de inteligência humana por máquinas, especialmente sistemas informáticos. Esses processos incluem aprendizagem (aquisição de informações e regras para o uso da informação), raciocínio (usando as regras para chegar a conclusões aproximadas ou definitivas) e auto-correção. Aplicações particulares da IA incluem sistemas especializados, reconhecimento de fala e visão artificial. Portanto, é a capacidade dos sistemas informáticos realizar operações análogas à aprendizagem humana e à tomada de decisões”. Este seria outro ponto de atenção no aspecto antropológico porque, embora a decisão de liberdade permaneça no homem, a capacidade de processar dados, mantê-los disponíveis e oferecer alternativas mais qualificadas estaría supostamente em máquinas com inúmeras potencialidades, mas que não possuem a consciência moral.

 Robótica: seria a utilização de estruturas mecánicas que automatizam tarefas e serviços, com certo grau de inteligência, visando a produção industrial ou a substituição do homem em diversas atividades. “O problema surge quando, na prática, o desenvolvimento impacta diretamente a vida do homem e sobre a estruturação social. Enquanto a atividade robótica substituir o homem apenas em árduas tarefas, tudo vai muito bem. Mas o que acontece quando a automação ocupa lugares e atividades do homem?”, refletiu o religioso ao pensar em tantos exemplos, como a substituição de enfermeiros, assistentes para idosos e doentes, cuidadores de crianças e até educadores.

Pistas educativas

Ao considerar o firewalls, filtros, controles de sistemas e se a solução seria a Igreja criar uma “rede protegida”, pela qual todos pudessem navegar com total segurança, sua responsta é direta: “Não”.

“Não”, por muitas razões:

– “Não” porque a Igreja não é livre do pecado e não tem a solução de todos os problemas;

– “Não” porque as tentativas de “separar-se do mundo” não são o mandato do Senhor, que é “estar no mundo sem ser do mundo” e agir no mundo como “fermento na massa”;

– “Não” porque o “mundo real” é este, com o que há de bom e de ruim, e cada um sempre precisará escolher; – “Não” porque, mais cedo ou mais tarde, todos temos que encarar a totalidade da realidade, e o perigo é maior quando deixamos um “mundo protegido”;

– “Não” porque as tentativas de “fazer as coisas separadamente para nos proteger” sempre terminaram em fundamentalismos e movimentos sectários que distorceram a verdadeira fé católica;

– “Não” porque o gerenciamento desta “rede segura e católica presumida” seria de qualquer forma gerenciado pelos criadores, que também tem pecado original e pode cometer erros na criação de filtros e barreiras de acordo com seus próprios critérios. “Quem controla o controlador? E o histórico nos diz o que é o que acontece”, ponderou.

– “Não”, em última análise porque não podem ser firewalls que controlam a liberdade do homem em sua escolha de viver o bem, a verdade e o amor.

“Quantos são aqueles que usam redes digitais para conversar, ver, conhecer e navegar, porque quem deve dedicar o tempo está sempre ocupado? Quantos em sua solidão buscam refúgio, mesmo que não seja o melhor, ou mesmo ruim, porque pelo menos ‘alguém’ lhes dá um momento?”. Com esta constatação, monsenhor Lucio definiu a “presença”, “exemplo”, “companhia” e “diálogo” nas famílias e relações interpessoais como o centro de uma autêntica  “educação para a liberdade”.

Outro treinamento, segundo ele, seria o da autenticidade. Na atualidade, todas as situações parecem demandar uma grande velocidade de resposta, favorecendo uma confusão de respostas rápidas e impulsivas. Entretanto, de acordo com Lucio Ruiz, “a autenticidade é medida na coerência entre o que é dito e vivido com os valores que foram aprendidos e entendidos como verdadeiros, bonitos e bons. Portanto, para ser verdadeiramente autêntico, leva tempo, dedicação, esforço”.

Ao apontar algumas pistas educativas trazidas pela Congregação para a Educação Católica, em seu Instrumentum Laboris “Educar hoje e amanhã”, de 2014, o secretário da Secretaria para a Comunicação propôs como concretização das metas do documento a educação para o silêncio, proximidade e solidariedade e para o pensamento crítico e gestão tecnológica, aspectos que também irão propiciar a formação de pessoas livres e autênticas.

“Se realmente queremos viver nossa liberdade de forma plena e autêntica, e queremos transmiti-la às gerações futuras, devemos enfrentar o desafio de descobrir a profundidade da nossa humanidade, com suas potencialidades e limites. Contudo, o único modo verdadeiro para a nossa vida ter significado se chama ‘felicidade’”, concluiu.

Expectativa para 2018

No encerramento da quarta edição do Seminário de Comunicação, o arcebispo do Rio, Cardeal Orani João Tempesta, comemorou o fato de a Arquidiocese do Rio fixar mais essa tradição de serviço de formação para comunicadores de todo país. Outra tradição da arquidiocese no campo da formação é o Curso para Bispos, que já ocorre desde 1991.

“Foram dias de escuta, partilhas, reflexões pessoais e para as dioceses sobre uma comunicação em constante progresso, mas também de desafios. Temos uma certa responsabilidade por termos a missão de servir à Igreja”, finalizou ao evidenciar que, apesar dos problemas econômicos, políticos e morais da cidade, é possível desfrutar do Rio de Janeiro, uma cidade com vocação não somente ao turismo mas para fazer o bem.

A data da próxima edição do Seminário será divulgada a todas as dioceses, na página do Facebook do encontro e nos meios de comunicação da Arquidiocese do Rio no início de 2018.

Fonte: http://arqrio.org/noticias/detalhes/6316/educacao-para-liberdade-e-autenticidade-monsenhor-lucio-ruiz-aponta-caminhos-para-vivencia-no-mundo-digital