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Histórias que movem a Pascom: Karina Carvalho, contadora de histórias

“Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2). A vida faz-se história. Foi com essa motivação que o Papa Francisco conduziu as reflexões para o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em maio de 2020. Um convite para respirar histórias que edificam, ajudam a reencontrar as raízes e prosseguir...

“Para que possas contar e fixar na memória” (Ex 10, 2). A vida faz-se história. Foi com essa motivação que o Papa Francisco conduziu as reflexões para o 54º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em maio de 2020. Um convite para respirar histórias que edificam, ajudam a reencontrar as raízes e prosseguir a caminhada. De acordo com o Santo Padre, essas boas narrativas revelam as belezas que habitam em nós e escancaram os fios que nos ligam às outras pessoas.

Todos nós temos histórias que edificam e revelam a ternura das relações que conduz a nossa vida. Em resposta a este apelo do Papa, a partir de hoje, no nosso portal, iremos atrás de pessoas que encontraram nas memórias, nas experiências profissionais e nas vivências pastorais os sinais das boas histórias que transformaram vidas e fazem florescer até hoje a cultura da esperança.

Em nossa primeira entrevista vamos até Curitiba, no Paraná. Por lá, a vida se faz história através do tecer de uma máquina de costura da mãe da jornalista Karina de Carvalho, que ao observar o manejo dos tecidos se inspirou para a construção do seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Comunicação Social.

“Era um final de semana, estava em casa trabalhando no meu TCC. Minha mãe tinha colocado a máquina de costura dela no meu quarto que é tipo um escritório. Com a máquina em um cantinho ela me pediu: ‘Eu posso trabalhar aqui? Não vou te atrapalhar’. Disse que podia e fiquei observando. Ela estava ali costurando, eu fazendo meu TCC. Em um momento de bobeira, olhei para ela ali bem empolgada com a costura, e pensei: ‘Olha, tem tudo a ver né?’. E me veio a ideia de trabalhar esse processo no meu trabalho de conclusão. Ela costura tecidos, eu costuro palavras. Seria até uma homenagem para ela”, relatou.

Daí por diante, tendo bem definido o fio condutor do TCC, Karina apresentou o projeto para a orientadora que aprovou a ideia. Contar histórias. O fundamento da profissão que ela escolheu para a vida foi a motivação para a construção do seu artigo. As costuras de sua mãe, agora se transformaram em palavras que ajudam a contar boas histórias.

“Ainda quando estava fazendo o projeto, li um livro da Eliane Brum que me influenciou bastante. No livro, que se chama ‘O olho da rua’, ela conta a história de pessoas anônimas. Ela foi viver dez dias num asilo e contou as histórias dos idosos que moravam lá. Ela também foi para Roraima e contou as histórias de garimpeiros. Ao final de cada reportagem, relatava as experiências que tinha vivido durante as conversas. A experiência de ouvir e de como entrevistar uma pessoa e de se deixar surpreender. Decidi que iria fazer algo parecido no meu TCC,” contou.

O que inicialmente era para ser apenas um artigo, nas ideias da Karina se tornaria um livro reportagem. Além da mãe, também foram agregadas na inspiração do projeto, a escritora Eliane Brum e a ação evangelizadora ‘Cada Comunidade uma Nova Vocação’, projeto que Karina ajudou a desenvolver no Regional Sul 2 da CNBB, e que depois se espalhou para várias dioceses brasileiras e africanas, no intuito de contar histórias vocacionais e rezar pelas vocações.

Contar e fixar na memória boas histórias requer parar e ouvir. Essas foram as próximas atividades da jornalista. Buscar personagens para ouvir suas histórias e depois costurar essas mesmas histórias com as suas palavras. E essa busca levou Karina para onde nem imaginava chegar.

“Fiz todo o projeto e depois fui inserindo as personagens. Por incrível que pareça, todas as pessoas que eu pensei em realizar as entrevistas aceitaram o desafio. Até dom Mário Antônio da Silva, bispo de Roraima, que no meu pensamento seria o mais difícil de aceitar”.

E continuou.

“Nas entrevistas eu não queria só uma conversa, queria conviver um pouquinho com os entrevistados. Sair de Curitiba para Roraima, ficar por lá uma semana, parecia algo inviável. Mas deu certo e foi incrível. Todos os entrevistados que escolhi eram pessoas que eu conhecia, mas que eu não tinha nenhum vínculo de amizade, nenhuma familiaridade. Isso foi importante para que eu pudesse me deixar surpreender com as histórias”, declarou.

As entrevistas renderam boas experiências para Karina. Além do convívio com os povos tradicionais em Roraima, ela também conta a experiência mística com o monge trapista dom Bernardo Bonowitz.

“Dom Bernardo foi eu que fiquei menos tempo. Cerca de uma hora e meia. Mas me pareceu estar diante de um santo. O homem é um místico. Cada pergunta que fazia para ele, ele parava, pensava e respondia. Ele refletia sobre aquilo, não era uma resposta da boca para fora”, disse.

Experiências culturais, étnicas, vocacionais ajudaram Karina a costurar boas histórias. A observação de sua mãe no canto de seu quarto costurando tecidos, despertou na jornalista o desejo de reproduzir a ação a mesma ação, porém com a sua matéria prima, as palavras. No Trabalho de Conclusão de Curso da até então graduanda em jornalismo, a vida se fez história. Parar, escutar, costurar e contar, estes quatro verbos marcaram para sempre a vida da Karina. Os entrevistados por Karina foram: Padre Jean Patrik Soares, da Diocese de Guarapuava (PR); Madre Maria Antônio Zwerger, abadessa emérita da Ordem Cisterciense; Irmã Valéria Andrade Leal, irmã Apóstola do Sagrado Coração de Jesus e assessora da Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB; Padre Noé Borges Vieira, da Diocese de Ponta Grossa (PR); Dom Bernardo Bonowitz, abade trapista em Campo Tenente (PR) e Dom Mário Antônio da Silva, bispo da Diocese de Roraima e segundo vice-presidente da CNBB.

O livro reportagem, que tem como título ‘Vidas Consagradas: homens e mulheres inteiramente dedicados a Deus na Igreja Católica’, ganhou versão impressa e agora está disponível para leitura no formato digital. Para acessar clique aqui.

 

(Entrevista: Marcus Tullius; texto: Franklin Machado; fotos: Karina Carvalho)