Dia Mundial da Fotografia: Da face de Cristo à era da inteligência artificial

Neste Dia Mundial da Fotografia, a Igreja convida os comunicadores a viverem sua missão como profetas da imagem, revelando o invisível, narrando o sagrado
Foto: Pe. Renan Dantas – Seu nome é Jesus Cristo e passa fome.

No dia 19 de agosto, o mundo celebra o Dia Mundial da Fotografia, uma oportunidade de refletir sobreo poder da imagem como linguagem  que comunica, preserva a memória e anuncia a esperança. Na vida da Igreja, a fotografia vai além da técnica: ela se torna instrumento de evangelização, revelando a beleza da fé e o rosto humano iluminado pela presença de Deus.

 

Fotografia como Evangelização

A fotografia tem a capacidade de transformar cada registro em um anúncio vivo. Uma missa, uma procissão, um gesto de solidariedade ou até mesmo um olhar singelo podem se tornar evangelho visível. O Diretório de Comunicação da CNBB recorda:

“Para exercer essa missão, a Igreja tem o dever de perscrutar permanentemente os sinais do tempo,
interpretados à luz do Evangelho” (n. 11).

Nesse sentido, o fotógrafo pasconeiro é aquele que, atento aos sinais, revela o agir de Deus na história através da imagem.

 

O Sagrado Revelado: Santa Verônica

Foto: Divulgação

A tradição cristã aponta Santa Verônica como padroeira dos fotógrafos, porque, ao enxugar o rosto de Cristo no caminho da cruz, recebeu gravada no tecido a Sua imagem. Esse gesto inspira os comunicadores de hoje: fotografar não é apenas congelar um instante, mas revelar a face de Cristo presente em cada pessoa.

 

Memória, Registro e Anúncio

A fotografia é também memória e história. Ela conserva para as futuras gerações os passos da Igreja, suas lutas e conquistas, sua vida comunitária. Como lembra o Diretório:

“A comunicação tem como objetivo primordial criar comunhão, estabelecer vínculos de relações, promover o bem comum, o serviço e o diálogo na comunidade” (n. 21).

Cada foto guardada pela Pascom é, assim, testemunho vivo de uma Igreja em saída, que não se fecha, mas anuncia, registra e partilha a vida.

 

Testemunhos que inspiram

Foto: Sacerdos Photo – Procissão do Carmo

O fotógrafo Drailton Gomes, natural de Recife (PE), partilha sua trajetória marcada pela fotografia religiosa:

“Sou fotógrafo há cerca de 17 anos e dediquei os últimos 10 à fotografia sacra, através da empresa Sacerdos Photo. Durante esse percurso, tive a oportunidade de ver a fé do povo. Para celebrar os 10 anos da Sacerdos, realizaremos uma exposição cujo tema é A fé que eu vi. Mais do que viver a minha fé, eu pude ver a fé dos outros — e isso me comove profundamente.

Um dos momentos mais marcantes foi ao fotografar a procissão de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Recife. Quando o andor saiu da igreja, o pátio estava tomado por milhares de fiéis. Do cordão de isolamento eu via o povo tentando se aproximar, para oferecer uma rosa, olhar de perto a imagem da Mãe do Céu. Aquela cena me impactou tanto que caí em um choro compulsivo. Foi como se Deus quebrasse um pouco da dureza do meu coração. Esse dia me ensinou que fotografar a fé é também ser tocado por ela.

Hoje, em tempos de inteligência artificial e novas tecnologias, continuo acreditando que nada substitui a sensibilidade humana. O olhar humano é insubstituível, porque só ele é capaz de se comover diante do mistério da fé.”

Esse testemunho ecoa a missão dos fotógrafos da Pascom: não apenas registrar, mas deixar-se tocar e transformar pela fé que testemunham.

O fotógrafo Marcos José, que serve na Pastoral da Comunicação no Rio de Janeiro, relata uma experiência tocante:

“Certa vez fotografei uma senhora que raramente tinha uma imagem sua. Quando mostrei a foto, ela se emocionou e disse: ‘Eu não sabia que podia ser bonita assim’. Aquele momento me fez entender que fotografar é mais que registrar: é revelar dignidade, é comunicar que cada pessoa é amada por Deus.”

Esse testemunho mostra que a fotografia não é apenas técnica, mas vocação para o encontro. O Diretório de Comunicação afirma:

“Do encontro nasce a escuta, e da escuta nasce o anúncio. O anúncio fundamental é o amor pessoal de Deus que se faz homem” (Evangelii Gaudium n. 27).

 

Desafios na Era da Inteligência Artificial

Vivemos tempos em que a fotografia é recriada por softwares e imagens podem ser geradas sem câmera.Se por um lado a inteligência  artificial amplia a criatividade, por outro gera preocupações éticas: como garantir a verdade da imagem? O Diretório da CNBB adverte:

“A comunicação deve ser instrumento de paz e nunca uma comunicação violenta” (n. 36).

Nesse contexto, o Papa Leão XIV, em mensagem assinada pelo Secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, por ocasião da Cúpula da Inteligência Artificial para o Bem 2025, em Genebra, sublinha que a IA deve ser usada em benefício da família humana. O Pontífice afirma:

“Embora a inteligência artificial possa simular aspectos do raciocínio humano e realizar tarefas específicas com incrível velocidade e eficiência, não pode replicar o discernimento moral ou a capacidade de formar relações genuínas. Portanto, o desenvolvimento de tais avanços tecnológicos devem andar de mãos dadas com o respeito pelos valores humanos e sociais, a capacidade de julgar com consciência limpa e o crescimento da responsabilidade humana.”

 

O Papa também alerta que:

“A humanidade está numa encruzilhada, enfrentando o imenso potencial gerado pela revolução digital impulsionada pela inteligência artificial”, destacando que essa transformação histórica exige responsabilidade, discernimento e uma governança global que
assegure o uso ético da tecnologia para o bem comum.

 

A Comunicação na Vida da Igreja

O documento da CNBB recorda ainda que:

“Para a Igreja, a comunicação é um processo primordial, pois a evangelização, anúncio do Reino, é comunicação” (n. 32).

Ser fotógrafo pasconeiro é, portanto, ser missionário: caminhar em unidade com a comunidade, em sintonia com os padres e pastores, ajudando a sociedade a experimentar o valor de uma Igreja sinodal, em saída e em comunhão.

 

Um Chamado para Hoje

Foto: Pe. Renan, no 8º Encontro Nacional da Pascom, em Aparecida – 2024

Neste Dia Mundial da Fotografia, a Igreja convida os comunicadores a viverem sua missão como profetas da imagem, revelando o invisível, narrando o sagrado, guardando a memória e anunciando a esperança. Que cada fotógrafo seja, à sua maneira, um como “Veronica”, que ao registrar um rosto, uma celebração ou um gesto de fé, torna presente a ternura de Deus que se comunica.

 

Por Pe. Ranan Dantas