A primeira exortação apostólica do pontificado do Papa Leão XIV é a continuidade de um trabalho iniciado pelo Papa Francisco, nos últimos meses da sua vida, com a encíclica Dilexi te (Eu te amei – Ap3.9).
Sobre “o cuidado da Igreja pelos pobres e com os pobres”, o texto une as visões e ensinamentos dos dois papas, demonstrando também, além do tema principal do documento, que o discurso sobre a sinodalidade, principalmente em um assunto tão expressivo, é necessário nas bases, nas comunidades e paróquias.
O documento apresenta as várias situações de pobreza que estão presentes no dia a dia, como os que não têm sustento; os marginalizados; os que possuem pobreza moral, espiritual e cultural; os que não têm direitos ou os que não têm voz ou liberdade.
Através desses “rostos da pobreza”, o “Amor de Cristo torna-se concreto” e, através dos pobres, “Ele [Deus] ainda tem algo a nos dizer”.
O Papa Leão nos alerta e convida a vivermos as realidades de pobreza que nos cercam, assim como São Francisco de Assis, que renasceu e renunciou a uma vida de esbanjamento depois de viver o “impacto da realidade daqueles que são expulsos da convivência”.
Ir até os que mais precisam e conhecer suas dores, assim como fez o Bom Samaritano ao cuidar do ferido, revela emoções e empatia que nos impulsionam a refletir sobre nossas ações pastorais e sobre o que estamos fazendo diante da realidade de tantos homens e mulheres, adultos, crianças e idosos menos favorecidos.
Porém há uma ressalva muito importante do Santo Padre, que nos alerta:
“Não estamos no horizonte da beneficência [assistencialismo momentâneo], mas no da Revelação: o contato com quem não tem poder nem grandeza é um modo fundamental de encontro com o Senhor da história.”
Onde entra a Pascom, com sua ação pastoral, nesse contexto?
A Pastoral da Comunicação é transversal e perpassa todas as outras pastorais das nossas paróquias. Somos a pastoral das pastorais e a comunicação é o nosso modo de levar as pessoas ao encontro do Cristo Ressuscitado através dos meios de comunicação social, com ferramentas online e offline.
Diante de um chamado urgente do Papa Leão, através da Dilexi te, recordamos também o Papa Francisco quando nos provocou a “Ir e Ver”, na mensagem do 55º Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2021. Francisco pediu para “gastarmos as solas dos sapatos” e irmos ao encontro das realidades que nos cercam para ver as necessidades de comunicação que são urgentes para mudar a realidade que sofre.
O pedido de Francisco ecoa hoje através de Leão, que nos anima e encoraja para lançarmos as redes novamente. É hora de darmos voz e vez aos irmãos e irmãs agentes das pastorais e movimentos sociais de nossas comunidades e paróquias.
Não queremos sensacionalismo! Não devemos divulgar os rostos dos menos favorecidos como meio de engajamento e busca por cliques. Isso seria heresia e erro grave!
Devemos sim mergulhar nos cenários das pastorais e movimentos sociais, pois nossas comunidades e paróquias estão inseridas em um contexto social que não dá para “separar fé e caridade”.
Mudança de mentalidade
Muitas vezes pensamos que cenários de fome, desigualdade social, tráfico humano e trabalho escravo estão muito longe do nosso cotidiano, e ficamos somente entre as quatro paredes das nossas igrejas.
É preciso “abrir as janelas e deixar a Luz do céu entrar”. É preciso sair. Com certeza, quando entrarmos em contato com as realidades que nos cercam, haverá um impacto naquilo que acreditamos e, assim como São Francisco de Assis, citado pelo Papa Leão XIV, nosso modo de ver a realidade e os nossos corações mudarão.
Sem voz e nem vez
Abrir espaço para apresentar os trabalhos sociais que nos cercam nas comunicações paroquiais é “criar pontes de conexão” com os fiéis e o sagrado. É tornar viva a fé e a caridade juntas.
São nessas ações que a Pascom pode e deve ajudar:
- Reúna a equipe da Pascom e escute o que as pastorais e movimentos sociais locais têm a dizer sobre suas ações e necessidades de comunicação.
- Apresente os projetos executados e as ações desenvolvidas.
- Crie vídeos apresentando seus trabalhos e como as pessoas podem ajudar.
- Façam banners impressos e cartazes sobre os trabalhos sociais e como eles ajudam a comunidade local.
- Busque parcerias de divulgação com estabelecimentos próximos à paróquia, pois as pastorais e movimentos sociais certamente atendem também pessoas não católicas.
Atenção!
Cuidado com as fotos e vídeos nas captações quando as pastorais e movimentos sociais estiverem em ação. Evite expor as situações com as pessoas em vulnerabilidade. Lembre-se que o foco não é o sensacionalismo.
Conforme nos lembra São João XXIII, na abertura do Concílio Vaticano II, ao afirmar: “A Igreja apresenta-se como é e como quer ser, como Igreja de todos e particularmente Igreja dos pobres”, somos chamados a não agir como aqueles que, na parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37), passaram pelo homem ferido e abandonado à beira do caminho. Pelo contrário, somos desafiados a ser instrumentos de transformação social por meio da comunicação.
Que as palavras do Papa Leão XIV, no final da Dilexi te, sejam inspirações diárias para a nossa ação pastoral:
“Quer através do vosso trabalho, quer através do vosso empenho em mudar as estruturas sociais injustas, quer através daquele gesto de ajuda simples, muito pessoal e próximo, será possível que aquele pobre sinta serem para ele as palavras de Jesus: Eu te amei (Ap3.9).”
Por Marcelo Godoy
Publicitário, pós-graduado em comunicação em redes sociais, coordenador nacional do GT de Produção da Pascom Brasil e membro da Comissão Arquidiocesana da Pastoral da Comunicação na Arquidiocese de Campinas/SP.