
Rezar uns pelos outros se torna um ato comunicativo capaz de atravessar qualquer distância. A oração constrói pontes. A fé cria laços. A comunhão espiritual rompe muros, vence a solidão e derruba paredes erguidas pela indiferença. Quando alguém se lembra de nós diante de Deus, nossa vida ganha um brilho diferente, como se o coração encontrasse companhia no silenciar da fé. Quem intercede se transforma em eco de cuidado.
A comunicação na Igreja nunca se limitou às palavras ou aos meios técnicos. Toda expressão comunicativa do Evangelho nasce do encontro e se orienta para a comunhão. O Concílio Vaticano II, no decreto Inter Mirifica (1963), ensina que os meios de comunicação devem contribuir para o bem comum e para a unidade fraterna da humanidade (IM, 2). Antes de qualquer tecnologia, existe a relação. Antes do microfone, existe o coração que deseja escutar e ser escutado. A oração é comunicação no seu estado mais puro.
A Igreja, ainda nas primeiras grandes revoluções tecnológicas do século XX, já percebia o poder dos meios de comunicação. Na encíclica Vigilanti Cura (1936), o Papa Pio XI alerta para o cuidado diante das novas linguagens, sobretudo o cinema, que molda mentalidades. Alguns anos depois, Pio XII, com Miranda Prorsus (1957), observa que rádio, televisão e cinema são instrumentos capazes tanto de evangelizar como de ferir a dignidade humana. Ele conclama os fiéis a manejarem tais ferramentas para edificar o bem.
A oração intercessora segue a mesma dinâmica: utilizar tudo o que temos para construir amor. Ela supera fronteiras físicas, diferenças culturais e até barreiras emocionais. Existem situações em que o abraço não chega, a visita não é possível, a palavra falha. A oração sempre encontra passageiro e destino. Cada súplica transforma quem reza e quem é lembrado. O Espírito Santo se torna ponte viva entre corações.
O Papa Francisco recorda que a comunicação pode ser “milagre de proximidade”, especialmente quando o mundo insiste em alimentar polarizações e hostilidades. O gesto simples de rezar pelo outro desarma a lógica da indiferença. Deixa claro que ninguém está condenado ao isolamento. Cada Ave-Maria se torna sussurro de ternura que viaja mais rápido que qualquer sinal de internet.
A instrução pastoral Communio et Progressio (1971) reforça que comunicar é promover comunhão. As linguagens e tecnologias devem favorecer relações humanas verdadeiras, sustentadas no amor que Cristo ensinou. A oração intercessora já realiza isso desde as primeiras comunidades cristãs: une quem reza e quem é rezado no Corpo Místico de Cristo.
O tempo presente trouxe novos cenários. A inteligência artificial auxilia em traduções, acessibilidade, educação, saúde e na evangelização. Redes digitais se tornaram espaços de proximidade pastoral, permitindo que pessoas enfermas, enlutadas ou geograficamente distantes encontrem consolo e pedidos de oração. Francisco, na Mensagem para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais (2023), alerta que a IA nunca substituirá o contato humano. Ela pode ser boa serva, embora péssima senhora. A fé exige que nenhuma tecnologia ocupe o lugar do amor.
O perigo mora na tentação de reduzir a espiritualidade a simples interação digital. A lógica dos algoritmos não pode definir o valor das pessoas. O ser humano não é curtida (likes). É imagem e semelhança de Deus. A intercessão garante esta verdade: mesmo quando o mundo virtual perde sensibilidade, o céu nunca perde conexão. O Espírito é nossa rede divina de comunhão. Ele leva nossa oração a quem precisa de cura, força, paz, esperança e fé.
Os meios digitais oferecem oportunidades preciosas: lives de adoração, terços on-line, grupos de intercessão e mensagens de conforto. Contudo, cada tecnologia deve ser ponte, nunca muro. O Papa Francisco dizia que “não basta estar conectados; é preciso estar em comunhão”. A oração educa para esta comunhão que transforma intenções em gestos.
Rezar uns pelos outros é evangelizar pela via mais humana e profunda. É comunicar o amor que salva. O olhar se torna misericordioso. O coração aprende a palpitar pelo irmão. Cada pessoa lembrada na oração se torna sinal de que Deus age com delicadeza na história.
Que o Espírito Santo nos faça sempre comunicadores da esperança. Onde houver sofrimento, que nossa intercessão se apresente como abraço espiritual. Onde houver distâncias, que a oração construa encontros. Onde houver silêncio, que a fé fale com voz mansa e amorosa. Rezar uns pelos outros comunica a certeza de que ninguém caminha só. O Reino de Deus se constrói assim: com palavras que sobem aos céus e voltam à terra em forma de paz.
Referências Bibliográficas
Concílio Vaticano II. Inter Mirifica: Decreto sobre os Meios de Comunicação Social. Vaticano, 1963.
Papa Pio XI. Vigilanti Cura: Carta Encíclica sobre o Cinema. Vaticano, 1936.
Papa Pio XII. Miranda Prorsus: Carta Encíclica sobre Rádio, Televisão e Cinema. Vaticano, 1957.
Igreja Católica. Communio et Progressio: Instrução Pastoral sobre os Meios de Comunicação Social. Vaticano, 1971.
Papa Francisco. Mensagem para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais. Vaticano, 2023.
Por Pe Renan Dantas – Diocese de Juína – MT
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