
“A liturgia, que é em si mesma comunicação, torna-se também comunicativa: toca profundamente as pessoas, fazendo com que compreendam a mensagem, se envolvam afetivamente, se comovam, participem da celebração, assumam um compromisso de vida.” (OLIVEIRA, 1989)
Um dos aspectos mais sagrados e bonitos da liturgia da Igreja Católica é a participação dos fiéis de forma mais efetiva no âmbito pastoral e eclesial. Isso acontece após o Concílio Vaticano II, quando diversos leigos e leigas puderam assumir funções ministeriais, que até então eram somente realizadas aos ministros ordenados. Esta participação está necessariamente ligada ao gerar comunhão, no qual cada um de nós, através das funções pastorais que desempenhamos, estamos intimamente ligados à figura de Cristo cabeça. A Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium exorta-nos que os fiéis devem, assistidos pelos pastores, participar de forma consciente, ativa e frutuosa dos mistérios celebrados.
Estes aspectos revelam-nos um Deus que convida-nos, a mim e a você, à participação que é compromisso de vida e de comunidade. Quando vamos à missa observamos que, para que a ação aconteça, são necessários diversos braços, ou até mesmo um corpo que é formado por ministros da Eucaristia, leitores, cantores, coroinhas, entre tantas outras funções exercidas por nós leigos e leigas. E entre estas tantas funções está a nossa de agentes da Pastoral da Comunicação, tornamo-nos participantes do maior ato de amor da humanidade, formamos comunhão na Liturgia terrena que se une à liturgia celeste.
A missa como fonte de espiritualidade e alimento para os agentes da Pascom, momento de encontro com o Comunicador
No episódio da Ascensão do Senhor, vemos fortemente a mensagem de Jesus como Comunicador. Ele, ao subir aos céus, deixa-nos um profundo consolo e uma comunicação do Pai: vós não estareis sós, eu vos enviarei um Paráclito (Jo 14,16-18). Nisto, Jesus ao cumprir sua missão terrena, dá-nos um impulso missionário, um envio. Mas, para aprofundarmos o episódio da Ascensão precisamos voltar algumas cenas na trajetória pascal, quando Jesus ao prever e sentir que seria atraiçoado e morto, quis com seus amigos (leia-se apóstolos) compartilhar de uma ceia, lá aconteceu a Instituição de um grande ato do Mestre que se assenta e parte o pão, dá de beber do seu cálice e ainda ensina a eles, e a cada um de nós: isto é o meu corpo e meu sangue, tomai bebei e comei, fazei em memória de mim. O fazei em memória de mim tem ecos de eternidade, é um sacrifício que é oferecido incessantemente. É pão, alimento para a nossa jornada, a nossa caminhada de agente da Pastoral da Comunicação e de todos os católicos.
Uma saudosa religiosa, Irmã Míria T. Kolling ICM, em uma de suas canções, intitulada A Força da Eucaristia, nos ensina como fortalecer as bases de nossa espiritualidade: “Eu sou teu alimento, ó caminheiro […]. Levanta-te e come que o caminho é longo…” Embora, em muitas das vezes, nós agentes da Comunicação estejamos trabalhando nos bastidores das celebrações da eucaristia, quer seja nas transmissões, nas fotos, nas gravações ou até mesmo passando slides, temos de ter a consciência de que na Comunhão, na participação e na Palavra nos alimentamos do próprio Cristo Jesus, é nossa Paścoa Semanal! A Missa nos dá forças na caminhada e assim, também é nosso encontro com o Comunicador por excelência, Jesus!
O exercício do ministério-servir
Chegamos a um ponto muito importante desta nossa reflexão espiritual, o colocar-se à disposição como aquele que serve. O Documento 99 da CNBB, Diretório da Comunicação da Igreja no Brasil, em seu parágrafo 60, nos diz que “a comunicação não é simplesmente uma ação externa, técnica e sistemática”. A partir desta ótica, nós comunicadores católicos precisamos compreender e refletir sobre o nosso ministério na Igreja. Nossas ações têm sido verdadeiramente envoltas de um caráter espiritual ou por vezes temos ido à Igreja, cumprido nossas funções de forma mecânica.
A palavra ministério de origem latina, quer nos inquietar e nos provocar. Ministro é aquele que serve, aquele que em meio às adversidades de sua ação eclesial está ali para inclinar-se e colocar-se à disposição dos irmãos e irmãs. Aqui retomo, aquela clássica frase de que a Pascom é a pastoral das pastorais, não por vaidade, mas por serviço. Somos uma pastoral que olha para as outras como motivação de vê-las brilhar aos olhos da comunidade e de torná-las conhecidas. Mas, para isso é necessário realizarmos um exercício de espiritualidade, no qual diante de Deus, o Criador, colocamo-nos em suas mãos como servos criativos, que sabem escutar, conciliar e gerar comunhão. Servos, que em seu íntimo usam de sua criatividade, de seus dons para dar dinamicidade e vida ao meio em que estão inseridos, quer seja lá na pequena capela de sapé do interior à mais magnífica catedral.
A participação efetiva do agente na Eucaristia
Quanto mais trabalhamos, mais agimos, mais empregamos nossas forças em prol de algo, mais precisamos nos alimentar! Na Sagrada Escritura, especialmente no livro do Êxodo vemos o povo que alimentava-se do Maná, foram quarenta anos de caminhada rumo à Terra Prometida, até lá Deus os alimentou. Assim, a Eucaristia é o alimento espiritual de nossa caminhada para Deus, como foi o maná.
E aqui, cabe a nós alguns questionamentos:
- Temos celebrado a Eucaristia enquanto atuamos em nossas comunidades?
- Temos tido momentos de encontro com o Senhor no Santíssimo Sacramento?
- As nossas ações como agentes na Eucaristia têm sido espirituais ou automáticas?
- Os nossos agentes têm momentos de espiritualidade?
- Existem formações litúrgico- celebrativas?
- Compreendemos que para servir com profundidade precisamos estar intimamente ligados ao mistério?

Com isso, precisamos abandonar de lado toda e qualquer frieza espiritual e fazer a experiência de a cada vez que nos revestirmos do servir, voltar ao primeiro amor, quando talvez lá na primeira vez que nos alimentamos de Jesus no Sacramento nosso coração pulsava forte, foi aquele profundo momento de encontro, no qual a mensagem comunicadora do Mestre invadiu nossas almas. Assim, mesmo em meio às tantas atividades da vida, pastorais e eclesiais compreenderemos que um belo fruto da Comunhão é a perseverança. Às vezes nos desanima a longa estrada da vida à nossa frente; o alimento e remédio que precisamos é a Eucaristia. Sem ela não nos é possível conservar o estado de graça por muito tempo. Ela é como aquela túnica de honra que dá direito a entrar no banquete celeste conforme a parábola que Jesus contou.
Jesus na Eucaristia é o pão de cada dia que nos fortalece e nos sustenta em todas as dificuldades da nossa existência. Não lutamos sozinhos, mas caminhamos em direção a Deus apoiado no Cristo.
Conciliação do servir e celebrar
Assim, queridos amigos e amigas, para encerrarmos esse itinerário que fizemos, vamos fazer da palavra conciliação um guia para um novo olhar para Jesus, para os sacramentos e para a nossa íntima ligação enquanto comunicadores para com o mistério de amor, a Eucaristia.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que “cada Celebração Sacramental – e isto é, a Liturgia – é um lugar privilegiado de ORAÇÃO, do nosso ENCONTRO pessoal com o Mistério da Trindade” (1153). Urge, então, amados amigos e amigas, comunicadores e comunicadoras que estão espalhados pelos rincões de nosso Brasil celebrarmos unidos, em oração constante, com os pés a caminho e o coração na missão. Como aqueles que se fazem servos, de servos viram amigos e se assentam à mesa do Mestre, para alimentar, da Palavra e da Eucaristia para ter forças na jornada comunicativa. Falemos d’Ele, vivamos par Ele, comuniquemos Ele, Jesus!
“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor. Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi do meu Pai!”
Alex Alves Guimarães é agente da Pascom há 7 anos e membro do GT Produção da Pascom Brasil. É um apaixonado por Jesus Cristo e por sua mensagem comunicadora e encantado pelas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, pelo jeito prático e vivencial do Evangelho. É professor licenciado em Letras, Português/Inglês pela Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), pós-graduado e membro de grupos de pesquisa na área de linguística textual, produção do texto e práticas docentes.
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Fontes de inspiração e dicas de aprofundamento
Documentos da CNBB. Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (documento 99). Brasília: Edições CNBB, 2014.
Documento de Puebla. A Evangelização no Presente e no futuro da América Latina. Petrópolis, Vozes, 1982.
Documento de Santo Domingo. Conclusões da IV Conferência do Episcopado Latino-Americano. São Paulo, Paulinas, 1992.
Documentos do Concílio Vaticano II. Constituição Sacrosanctum Concilium. Petrópolis: Vozes, 1966.
OLIVEIRA, Emar. Como organizar a Pastoral da Comunicação. São Paulo: Edições Paulinas, 1989.
Catecismo da Igreja Católica. Edição típica Vaticana. São Paulo: Loyola, 2000.