A Igreja Católica, ao reconhecer novos santos, não apenas declara a santidade de alguns, mas reafirma a vocação universal à santidade (cf. Lumen Gentium, 39-42: aqui). Para a Pastoral da Comunicação (Pascom), a pergunta essencial é: como comunicar esses acontecimentos com responsabilidade, unindo fé, história e testemunho?
Escutar para comunicar
A Pascom nasce do princípio da escuta. Comunicar não é apenas transmitir, mas “escutar de forma paciente e respeitosa” (Papa Francisco, Mensagem para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, 2022: aqui). Ao narrar uma canonização, o comunicador é chamado a ouvir a voz da Igreja, a memória dos santos e a fé do povo. Escutar significa humanizar o Sagrado, aproximando a vida dos santos da vida cotidiana dos fiéis. É a partir da escuta que a comunicação se torna anúncio, porque acolhe antes de transmitir.
O processo de canonização
A Igreja segue etapas rigorosas: Servo de Deus, Venerável, Beato e, por fim, Santo. Cada passo é fruto de discernimento, investigação histórica, teológica e, normalmente, da comprovação de milagres (cf. São João Paulo II, Divinus Perfectionis Magister, 1983: aqui). A canonização não é apenas um ato jurídico, mas uma proclamação pastoral e espiritual: a Igreja apresenta ao mundo testemunhas de Cristo, homens e mulheres que se deixaram transformar pela graça e se tornam sinais de esperança.
Evangelizar pela comunicação
Na comunicação das canonizações, é preciso lembrar que não se trata de espetáculo midiático. Como recorda o Papa Francisco na Evangelii Gaudium (n. 259), os santos são “os verdadeiros missionários”, que comunicam o Evangelho com a própria vida. O comunicador da Igreja, portanto, não divulga apenas uma celebração litúrgica, mas anuncia a esperança cristã, mostrando que a santidade é possível em cada estado de vida, inclusive no mundo contemporâneo, com seus desafios e contradições.
O desafio da Pascom é traduzir o extraordinário em linguagem acessível. Sem banalizar, mas também sem colocar os santos em um pedestal inalcançável. Como lembra o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (n. 21: aqui), comunicar é tornar Cristo próximo, ajudando o povo a perceber que os santos são irmãos e irmãs que viveram plenamente o Evangelho. Humanizar o Sagrado é mostrar que a graça de Deus se encarna em histórias concretas, em diferentes culturas e tempos. É abrir os olhos para reconhecer que os santos não são heróis distantes, mas pessoas que, como nós, caminharam com fragilidades, dúvidas e fé.
A força da santidade para hoje
A canonização também é uma resposta às angústias do nosso tempo. Em um mundo marcado por guerras, desigualdades e violências, a Igreja oferece ao povo exemplos de quem construiu a paz, defendeu os pobres e viveu o Evangelho sem reservas. Ao comunicar isso, a Pascom se torna instrumento de evangelização, ajudando os fiéis a descobrir que a santidade não é ideal inatingível, mas caminho de todos (cf. Papa Francisco, Gaudete et Exsultate, 14: aqui).
Ao comunicar uma canonização, a Pascom realiza um serviço evangelizador: escuta a fé do povo, traduz a linguagem da Igreja e anuncia que a santidade é real e atual. Trata-se de narrar vidas que brilham como faróis, mostrando que “a comunicação é vocação para o encontro” (Inter Mirifica, 2: aqui).
Canonizar é celebrar o poder transformador da graça. Comunicar a canonização é tornar visível que o Evangelho continua vivo — e que somos todos chamados a ser santos, cada um no coração do mundo, através de pequenos gestos que, unidos, iluminam a história.
Por Padre Renan Dantas, Diocese de Juína